quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A pequena Jaguatirica

Se lembram da antiga obsessão pela Jaguatirica de Chapéu que jamais foi encontrada?
Pois encontrei um texto daquela mesma época que relata um pouco desse tão importante assunto. Essa pequena reflexão é livremente inspirada na lendária fábula escrita por Anderclown: O gato Tutu e a Calça azul.


 A PEQUENA JAGUATIRICA (28/12/2010)
 
A pequena jaguatirica, solitária, imagina todo um mundo aos seus pés. Ela caminha nas margens do rio do tempo e pesca com singular destreza a sua presa; o conhecimento. Anos se passam na medida que a água se esvai. Mas a jaguatirica fica. Quem a adestrou? O seu próprio reflexo no cristalino espelho d'água. Então ela novamente observa o líquido harmonioso e vê no fundo do rio um pacote de bolacha. Astuta, a jaguatirica mergulha rompendo o véu do misterioso mundo aquático. Sem sunga, óculos ou touca ela move seus braços. Lá no fundo ela chega faceira, mesmo que com os últimos suspiros e o pacote abocanha. Ela faz seu trajeto tridimensional de volta à superfície estranha. Quando no chão coloca o belo pacote de bolacha, ela percebe que é o pacote, e nada mais. Não há uma bolacha sequer para satisfazer a fome que persegue todos os animais. Embaixo de uma árvore, ela se assenta e medita sobre seu próprio mundo e fisionomia. Anos depois ela se levanta e apenas imagina. Alcançou a iluminação antes mesmo do céu. Decide sair com o cajado pela estrada a pregar, mas antes coloca um chapéu.


Obs: Curiosamente, hoje foi encontrada a primeira representação gráfica de uma jaguatirica com chapéu na web, bem aqui. E, mais curioso ainda, falam de vesti-la com um "Chapéu de Carvalho Mole". Pois bem, nós sabemos quem se atreveu a representar uma jaguatirica com chapéu alguns anos atrás entre os nossos.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Lição de Rupert (O Suricato)

A seguinte redação (99) foi escrita quando a tarefa de casa pedia a elaboração de uma crônica de uma página. Ganharam uma fábula com nove páginas e uma ilustração. Em todo caso, é uma ótima estória para contar aos seus filhos antes da hora de dormir, pois promove a elevação do caráter através do exemplo e da conscientização das virtudes e da Lei Moral.




Ser Proativo - A lição de Rupert



Muitos falam de eficiência; eficiência do executivo, do estudante e do adolescente. Porém, ninguém falou da eficiência dos suricatos, nem uma vez sequer. É essa árdua tarefa que levarei a cabo nas próximas linhas. Portanto, se aconchegue na sua poltrona e descubra como um jovem suricato mudou sua vida ao adotar a postura proativa enquanto enfrente os desafios de seu habitat nos tórridos desertos da Namíbia.

Rupert era um jovem suricato que de bobo não tinha nada, sempre tentava passar a perna em todos os outros suricatos para obter benefícios, qualquer um que fosse. Mas este não era o pior defeito de nosso pequeno amigo, pois Rupert costumava culpar os outros membros de seu grupo por resultados ruins em suas caças. O problema é que Rupert era um dos piores caçadores de sua comunidade, esta que contava com 36 membros. Seus pais, Nélio e Elizabeth, haviam ensinado a Rupert como caçar escorpiões de modo louvável, como pegar ovos das aves de maneira tão furtiva que poderia ser tão visível como o vento e tão barulhento como uma sombra. Ele aprendeu? Não! Mais uma vez, havia culpado terceiros por sua falta de esforço. Nesta ida ocasião, ele afirmou:

– Nem para isso vocês servem, odeio vocês! – ele falava isso enquanto pulava e batia as patas no chão.

– Filho meu - interveio sua mãe –, nada se conquista sem esforço e dedicação.

– "Absofrutamente"! – disse Nélio enquanto abocanhava uma deliciosa maçã.

Este é só um dos episódios que mostra este terrível hábito do pequeno suricato Rupert. Certa vez, um grupo de dez suricatos estava perseguindo um escorpião gigante no deserto Kalahari. Rupert e seu amigo Rudolph estavam mais à frente observando a presa e o grupo se aproximarem. Rupert e seu amigo estavam no alto de uma formação rochosa, escondidos atrás de uma grande pedra solta. Sem dar muita atenção à perseguição, Rupert exclamou:

– Olha o que eu sei fazer!! – dizia isso enquanto escalava a pedra e dançava no seu topo.

– Não faça isso, amigo, vai provocar uma tragédia! – dizia Rudolph, aflito.

A pedra começou a se mover. Ela começou a rolar. Nesse momento, Rupert saltou da pedra e ficou são e salvo ao lado de Rudolph enquanto a grande pedra rolava morro abaixo em direção ao raro escorpião gigante e também ao grupo de suricatos. A pedra esmagou o escorpião totalmente, deixando-o totalmente inútil como alimento. Todos os suricatos usaram de sua grande habilidade para desviar da pedra, com exceção de um: o lento e bonachão Richard, que era um verdadeiro glutão que pouco se exercitava. Ele ficou com sua perna presa e agonizava:

– Oh! Céus!! Minha perna!! Ahhhhhh! Me acudam! Me acudam! Deus, minha perna! Está doendo para cachorro! Pela madrugada! Céus...

Um suricato que estava por perto exclamou:

– Pelas barbas do profeta! Venham ver!

Os suricatos se aglomeravam em volta de Richard, que chorava. Por fim, eles decidiram chamar o ancião - e também curandeiro - da comunidade, o velho Kamazulu Ratenga Pápum, o mais antigo de todos os suricatos, com 13 anos de idade. Após 10 minutos, Kamazulu Ratenga Pápum chegou em seu vagaroso, mas sábio, andar, empunhando seu cajado na mão esquerda enquanto, com a mão direita, coçava sua longa e reluzente barba branca.



(ILUSTRAÇÃO - Kamazulu Ratenga Pápum)

 

Mal chegou e um suricato já disse ao ancião:

– Oh, nobre sábio, mestre de sapiência, oh Kamazulu Ratenga Pápum, nos diga o que fazer!

O ancião coçou a barba, esboçou um sorriso e disse:

– Isso é melzinho na chupeta – então fechou a expressão e, seriamente, ordenou – Amputai!!

Os suricatos, obedientes, fizeram seu dever. Agora o pobre glutão nunca mais poderia caçar novamente, pobre Richard!

O grupo cercou Rupert e Rudolph que, atônitos, observavam. Questionaram sobre o ocorrido. Rupert botou a culpa em Rudolph que, sem chance de argumentar ou se defender, foi expulso da comunidade, jogado sem lenço ou documento no Kalahari. Mais uma vez, Rupert mostrou-se reativo e irresponsável.

Alguns dias depois, ninguém mais tinha notícias de Rudolph. Sua única família era seu tio, que nunca gostou do jovem suricato; portanto agradeceu aos céus o expurgo de seu sobrinho. Contudo, a vingança é um prato que se come frio...

Certa noite estava Rupert escutando seus discos de Jazz em sua toca¹, quando todo aquele "swing" foi interrompido por passos e barulhos estranhos que indicavam uma estranha presença no recinto subterrâneo de Rupert. Eis que surgiu, das sombras, outro suricato, e era Rudolph! Ele começou a falar:

– Por sua atitude, fui expulso. Vaguei no deserto por dias, passei sede e fome, mas encontrei outro bando e, desde aquele momento, venho arquitetando minha vingança! – e, dito isso, soltou uma gargalhada – Muahahaha!

Rudolph pegou uma meia cheia de moedas dentro e começou a bater em Rupert. Mas, seja por benção do destino ou algum mistério maior, na hora em que Rupert levaria o golpe de misericórdia, alguém entrou na toca. Era Nélio, pai de Rupert, que estava levando uma bota que seu filho havia esquecido na toca do pai. Nélio já fora caçador experiente. Sabia encarar uma boa briga. Avançou em Rudolph e tirou-lhe a vida. Rupert se encontrava muito machucado e pensava que, desta vez, não tinha a quem culpar. Pensava que poderia estar errado ao criticar tanto os seus pais suricatos. Chorando, ele correu fora da toca e fugiu. Correu de encontro ao seu destino.

Após dias vagando pelo Kalahari, o jovem suricato avistou pequenas cabanas, e também humanos andando, limpando peixes, dialogando e dançando. Assim eram os bosquímanos². Rupert, que estava sedento e esfomeado, se aproximou de um casal e se pôs a falar.

– Olá, humanos. Fugi de meu grupo e estou sem água e alimento há dias. Peço-lhes um pouco disso e hei de seguir meu caminho.

O casal trouxe, para o suricato, uma bandeja de insetos e um copo com água. Enquanto apreciava a comida, ele contava sua história ao casal, que ouvia atento. Rupert terminou sua refeição e levantou-se para partir, quando foi parado pelo casal. O marido, um jovem careca e forte disse:

– Por favor, não vá. Nós vamos te adotar e te ensinar as boas virtudes para que possa voltar para a sua comunidade e se mostrar o maior suricato que a África já viu! A propósito, eu sou Buzum Dedé e esta é minha esposa Mamazulu.

– Seja bem-vindo! – disse Mamazulu.

E assim passaram os dias: Eles discutiam filosofia, entoavam canções, caçavam, escutavam jazz e jogavam basquete. Rupert aprendeu o significado de "trabalho árduo" pela própria experiência. Desse modo, forma três anos. O suricato já era grande, no auge de seus 8 anos. Estava mais sábio que qualquer suricato e caçava mais que o melhor caçador do seu antigo grupo. Era tratado como igual pelos humanos. Ele se tornara um PROATIVO; assumia a culpa, era responsável e passou a depender apenas de si.

Era manhã e Rupert foi desperto por um som que parecia a união de mil trovões. Ao sair da toca, se deparou com uma cena estranha, humanos altos de cor branca e cabelos lisos como o pelo de um chimpanzé estavam falando em uma língua incompreensível.

Naquela altura, a Namíbia era dominada pelos alemães. Eles estavam no vilarejo para levar os nativos para outro lugar, já que construiriam ali uma cidade em virtude das minas que existiam por ali. Mas é claro que o pobre suricato não entendia nada. Só escutava aqueles alienígenas falando:

– Schnell! Schnell! Für Windhuk!³

Vendo sua família sendo levada e sem lugar para se esconder, Rupert subiu em uma rocha e esbravejou para os vales e desertos:

– É a hora de voltar a mostrar meu valor!

E lá foi Rupert, escalou montanhas, cruzou vales e encarou diversos desafios. Mas tudo isso não era nada, pois ele era Proativo, era obstinado, e usou toda a sua vontade e conhecimento para localizar seu antigo lar. Ele conseguiu.

Ao chegar, não notou muita diferença, mas percebeu uma tristeza no olhar dos suricatos, que não o reconheceram. Ele procurou se informar sobre o que ocorreu nesses 3 anos e ficou sabendo de algo terrível.

Contaram-lhe que um suricato mau havia vindo do Leste e dominado o grupo com sua bruxaria, fazendo todos o servirem.

Rupert chegou à conclusão de que devia derrotar o Bruxo Mal do Leste para se redimir, se desculpar por todo seu antigo mau comportamento.

Ele chamou todos os suricatos para se apresentarem na planície às 15h30min, e ao mesmo tempo desafiou o Bruxo Mal do Leste para um duelo. O bruxo aceitou.

Sob o sol escaldante estavam todos os suricatos do grupo esperando a grande peleja. Antes do duelo, Rupert contou todo seu drama e emocionou os presentes, mas foi interrompido pelo Bruxo Mal do Leste:

– Verme! Não ligo para sua história, kakaroto estranho suricato a quem chamam de Rupert! Saiba que não matei Kamazulu Ratenga Pápum, seus pais e tantos outros para ser deposto de minha posição por um qualquer! – e dito isso, o duelo começou.

A batalha seguiu por horas, e ninguém tirava os olhos da ação nem por um segundo. Por fim, Rupert conseguiu derrubar o Bruxo Mal do Leste em um grande Canyon, tirando-lhe a vida.

O povo, feliz, festejou por dias e decretou feriado. Rupert foi nomeado Líder e Sábio, recebendo o título de "Zubumafu". Dias de abundância e alegria estavam por vir. Esta foi a vitória do proativo, foi como o proativo mudou sua realidade ao tomar as rédeas da situação.

Foram felizes para sempre.

Dizem que, até hoje, se você olhar com o coração para as estrelas, verá um suricato alegre escutando jazz em sua toca chamada eternidade.

Moral da estória: Não responsabilize aos outros por seus fracassos, tome as rédeas da situação. Também nunca dance em cima de uma pedra gigante enquanto seus amigos caçam.




FIM




*Essa fábula é dedicada a Mufasa.





1- Cada suricato mora em uma toca particular

2- Os bosquímanos são um povo que habita o Sul da África e tem fenótipos mongolóides e negróides. Nelson Mandela faz parte desse povo.

3- Rápido! Rápido! Para Windkuk!

Cães do Canil e a Vareta Cutucante

O segundo texto foi escrito em 99 sob um pseudônimo, com o motivo de irritar uma professora que gostava de pedir redações.
 
Aluno: A. Tibes



Cães do Canil e a vareta cutucante



Tórrida tarde e os cães estavam sedentos:

-Água! Água! Quero me hidratar! - disse Roberto.

Roberto era um cão de cor dourada e olhos profundos, usava um chapéu incrível, com uma hélice que girava com o vento, como uma sinfonia mágica tocando a música e obra de Mozart.

Os cãezinhos, todos os 3, moravam no canil. Eles se chamavam: Roberto, Michael e Bitelvon. Eram três "fox-paulistinhas". Michael e Bitelvon eram irmãos, dois glutões que sempre se envolviam em confusão, viravam o canil de pernas para o ar.

Naquela escaldante tarde de dezembro, em pleno Equador, os cães agonizavam de sede. Nenhum ia até o poço, eram preguiçosos, não queriam andar os cem metros de areia quente até o poço.

- Vai você, Bitelvon - exclamava Roberto.

- Vai tu, Roberto - retrucava Bitelvon.

- Já digo que não vou! - se adiantava Michael.

Assim passaram horas. Ocorreu uma tragédia, Michael começou a espumar pela boca e se contorcer no chão, enquanto dizia coisas incompreensíveis. Alguém precisava tomar o controle da situação. Roberto sumiu por uns instantes e voltou com um capacete e uma varinha cutucante. Era seu ritual para fazer um acto heróico, uma façanha!

Ele subiu em uma casinha de pau-a-pique e disse:

- Vou fazer meu destino grande! Eu tenho a força!

Ele correu, sumindo no horizonte, deixando um rastro de heroísmo e uma aura mágica no ar. Voltou meia hora depois, dirigindo um caminhão pipa. O agonizante Michael bebeu o caminhão inteiro, ficou maior que a Terra, e derrubou o planeta no chão do universo. A vida na Terra acabou. A culpa era de Michael.

Porém, Roberto podia se orgulhar, pois foi proativo. “A gente é fraco”, cai no buraco. O buraco é fundo, acabou-se o mundo.