A seguinte redação (99) foi escrita quando a tarefa de casa pedia a elaboração de uma crônica de uma página. Ganharam uma fábula com nove páginas e uma ilustração. Em todo caso, é uma ótima estória para contar aos seus filhos antes da hora de dormir, pois promove a elevação do caráter através do exemplo e da conscientização das virtudes e da Lei Moral.
Ser
„Proativo“
- A lição de Rupert
Muitos
falam de eficiência; eficiência do executivo, do estudante e do
adolescente. Porém, ninguém falou da eficiência dos suricatos, nem
uma vez sequer. É essa árdua tarefa que levarei a cabo nas próximas
linhas. Portanto, se aconchegue na sua poltrona e descubra como um
jovem suricato mudou sua vida ao adotar a postura proativa enquanto
enfrente os desafios de seu habitat nos tórridos desertos da
Namíbia.
Rupert era um jovem
suricato que de bobo não tinha nada, sempre tentava passar a perna
em todos os outros suricatos para obter benefícios, qualquer um que
fosse. Mas este não era o pior defeito de nosso pequeno amigo, pois
Rupert costumava culpar os outros membros de seu grupo por resultados
ruins em suas caças. O problema é que Rupert era um dos piores
caçadores de sua comunidade, esta que contava com 36 membros. Seus
pais, Nélio e Elizabeth, haviam ensinado a Rupert como caçar
escorpiões de modo louvável, como pegar ovos das aves de maneira
tão furtiva que poderia ser tão visível como o vento e tão
barulhento como uma sombra. Ele aprendeu? Não! Mais uma vez, havia
culpado terceiros por sua falta de esforço. Nesta ida ocasião, ele
afirmou:
– Nem para isso
vocês servem, odeio vocês! – ele falava isso enquanto pulava e
batia as patas no chão.
– Filho meu -
interveio sua mãe –, nada se conquista sem esforço e dedicação.
– "Absofrutamente"!
– disse Nélio enquanto abocanhava uma deliciosa maçã.
Este é só um dos
episódios que mostra este terrível hábito do pequeno suricato
Rupert. Certa vez, um grupo de dez suricatos estava perseguindo um
escorpião gigante no deserto Kalahari. Rupert e seu amigo Rudolph
estavam mais à frente observando a presa e o grupo se aproximarem.
Rupert e seu amigo estavam no alto de uma formação rochosa,
escondidos atrás de uma grande pedra solta. Sem dar muita atenção
à perseguição, Rupert exclamou:
– Olha o que eu sei
fazer!! – dizia isso enquanto escalava a pedra e dançava no seu
topo.
– Não faça isso,
amigo, vai provocar uma tragédia! – dizia Rudolph, aflito.
A pedra começou a se
mover. Ela começou a rolar. Nesse momento, Rupert saltou da pedra e
ficou são e salvo ao lado de Rudolph enquanto a grande pedra rolava
morro abaixo em direção ao raro escorpião gigante e também ao
grupo de suricatos. A pedra esmagou o escorpião totalmente,
deixando-o totalmente inútil como alimento. Todos os suricatos
usaram de sua grande habilidade para desviar da pedra, com exceção
de um: o lento e bonachão Richard, que era um verdadeiro glutão que
pouco se exercitava. Ele ficou com sua perna presa e agonizava:
– Oh! Céus!! Minha
perna!! Ahhhhhh! Me acudam! Me acudam! Deus, minha perna! Está
doendo para cachorro! Pela madrugada! Céus...
Um suricato que estava
por perto exclamou:
– Pelas barbas do
profeta! Venham ver!
Os suricatos se
aglomeravam em volta de Richard, que chorava. Por fim, eles decidiram
chamar o ancião - e também curandeiro - da comunidade, o velho
Kamazulu Ratenga Pápum, o mais antigo de todos os suricatos, com 13
anos de idade. Após 10 minutos, Kamazulu Ratenga Pápum chegou em
seu vagaroso, mas sábio, andar, empunhando seu cajado na mão
esquerda enquanto, com a mão direita, coçava sua longa e reluzente
barba branca.
(ILUSTRAÇÃO -
Kamazulu Ratenga Pápum)
Mal chegou e um
suricato já disse ao ancião:
– Oh, nobre sábio,
mestre de sapiência, oh Kamazulu Ratenga Pápum, nos diga o que
fazer!
O ancião coçou a
barba, esboçou um sorriso e disse:
– Isso é melzinho
na chupeta – então fechou a expressão e, seriamente, ordenou –
Amputai!!
Os suricatos,
obedientes, fizeram seu dever. Agora o pobre glutão nunca mais
poderia caçar novamente, pobre Richard!
O grupo cercou Rupert
e Rudolph que, atônitos, observavam. Questionaram sobre o ocorrido.
Rupert botou a culpa em Rudolph que, sem chance de argumentar ou se
defender, foi expulso da comunidade, jogado sem lenço ou documento
no Kalahari. Mais uma vez, Rupert mostrou-se reativo e irresponsável.
Alguns dias depois,
ninguém mais tinha notícias de Rudolph. Sua única família era seu
tio, que nunca gostou do jovem suricato; portanto agradeceu aos céus
o expurgo de seu sobrinho. Contudo, a vingança é um prato que se
come frio...
Certa noite estava
Rupert escutando seus discos de Jazz em sua toca¹, quando todo
aquele "swing" foi interrompido por passos e barulhos
estranhos que indicavam uma estranha presença no recinto subterrâneo
de Rupert. Eis que surgiu, das sombras, outro suricato, e era
Rudolph! Ele começou a falar:
– Por sua atitude,
fui expulso. Vaguei no deserto por dias, passei sede e fome, mas
encontrei outro bando e, desde aquele momento, venho arquitetando
minha vingança! – e, dito isso, soltou uma gargalhada –
Muahahaha!
Rudolph pegou uma meia
cheia de moedas dentro e começou a bater em Rupert. Mas, seja por
benção do destino ou algum mistério maior, na hora em que Rupert
levaria o golpe de misericórdia, alguém entrou na toca. Era Nélio,
pai de Rupert, que estava levando uma bota que seu filho havia
esquecido na toca do pai. Nélio já fora caçador experiente. Sabia
encarar uma boa briga. Avançou em Rudolph e tirou-lhe a vida. Rupert
se encontrava muito machucado e pensava que, desta vez, não tinha a
quem culpar. Pensava que poderia estar errado ao criticar tanto os
seus pais suricatos. Chorando, ele correu fora da toca e fugiu.
Correu de encontro ao seu destino.
Após dias vagando
pelo Kalahari, o jovem suricato avistou pequenas cabanas, e também
humanos andando, limpando peixes, dialogando e dançando. Assim eram
os bosquímanos². Rupert, que estava sedento e esfomeado, se
aproximou de um casal e se pôs a falar.
– Olá, humanos.
Fugi de meu grupo e estou sem água e alimento há dias. Peço-lhes
um pouco disso e hei de seguir meu caminho.
O casal trouxe, para o
suricato, uma bandeja de insetos e um copo com água. Enquanto
apreciava a comida, ele contava sua história ao casal, que ouvia
atento. Rupert terminou sua refeição e levantou-se para partir,
quando foi parado pelo casal. O marido, um jovem careca e forte
disse:
– Por favor, não
vá. Nós vamos te adotar e te ensinar as boas virtudes para que
possa voltar para a sua comunidade e se mostrar o maior suricato que
a África já viu! A propósito, eu sou Buzum Dedé e esta é minha
esposa Mamazulu.
– Seja bem-vindo! –
disse Mamazulu.
E assim passaram os
dias: Eles discutiam filosofia, entoavam canções, caçavam,
escutavam jazz e jogavam basquete. Rupert aprendeu o significado de
"trabalho árduo" pela própria experiência. Desse modo,
forma três anos. O suricato já era grande, no auge de seus 8 anos.
Estava mais sábio que qualquer suricato e caçava mais que o melhor
caçador do seu antigo grupo. Era tratado como igual pelos humanos.
Ele se tornara um PROATIVO; assumia a culpa, era responsável e
passou a depender apenas de si.
Era manhã e Rupert
foi desperto por um som que parecia a união de mil trovões. Ao
sair da toca, se deparou com uma cena estranha, humanos altos de cor
branca e cabelos lisos como o pelo de um chimpanzé estavam falando
em uma língua incompreensível.
Naquela altura, a
Namíbia era dominada pelos alemães. Eles estavam no vilarejo para
levar os nativos para outro lugar, já que construiriam ali uma
cidade em virtude das minas que existiam por ali. Mas é claro que o
pobre suricato não entendia nada. Só escutava aqueles alienígenas
falando:
– Schnell! Schnell!
Für Windhuk!³
Vendo sua família
sendo levada e sem lugar para se esconder, Rupert subiu em uma rocha
e esbravejou para os vales e desertos:
– É a hora de
voltar a mostrar meu valor!
E lá foi Rupert,
escalou montanhas, cruzou vales e encarou diversos desafios. Mas tudo
isso não era nada, pois ele era Proativo, era obstinado, e usou toda
a sua vontade e conhecimento para localizar seu antigo lar. Ele
conseguiu.
Ao chegar, não notou
muita diferença, mas percebeu uma tristeza no olhar dos suricatos,
que não o reconheceram. Ele procurou se informar sobre o que ocorreu
nesses 3 anos e ficou sabendo de algo terrível.
Contaram-lhe que um
suricato mau havia vindo do Leste e dominado o grupo com sua
bruxaria, fazendo todos o servirem.
Rupert chegou à
conclusão de que devia derrotar o Bruxo Mal do Leste para se
redimir, se desculpar por todo seu antigo mau comportamento.
Ele chamou todos os
suricatos para se apresentarem na planície às 15h30min, e ao mesmo
tempo desafiou o Bruxo Mal do Leste para um duelo. O bruxo aceitou.
Sob o sol escaldante
estavam todos os suricatos do grupo esperando a grande peleja. Antes
do duelo, Rupert contou todo seu drama e emocionou os presentes, mas
foi interrompido pelo Bruxo Mal do Leste:
– Verme! Não ligo
para sua história, kakaroto estranho suricato a quem chamam
de Rupert! Saiba que não matei Kamazulu Ratenga Pápum, seus pais e
tantos outros para ser deposto de minha posição por um qualquer! –
e dito isso, o duelo começou.
A batalha seguiu por
horas, e ninguém tirava os olhos da ação nem por um segundo. Por
fim, Rupert conseguiu derrubar o Bruxo Mal do Leste em um grande
Canyon, tirando-lhe a vida.
O povo, feliz,
festejou por dias e decretou feriado. Rupert foi nomeado Líder e
Sábio, recebendo o título de "Zubumafu". Dias de
abundância e alegria estavam por vir. Esta foi a vitória do
proativo, foi como o proativo mudou sua realidade ao tomar as rédeas
da situação.
Foram felizes para
sempre.
Dizem que, até hoje,
se você olhar com o coração para as estrelas, verá um suricato
alegre escutando jazz em sua toca chamada eternidade.
Moral da estória: Não
responsabilize aos outros por seus fracassos, tome as rédeas da
situação. Também nunca dance em cima de uma pedra gigante enquanto
seus amigos caçam.
FIM
*Essa fábula é
dedicada a Mufasa.
1- Cada suricato mora
em uma toca particular
2- Os bosquímanos são
um povo que habita o Sul da África e tem fenótipos mongolóides e
negróides. Nelson Mandela faz parte desse povo.
3- Rápido! Rápido!
Para Windkuk!